China mira países ricos e reduz investimentos no Brasil
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China - BBC Brasil - 1 de novembro de 2013
O apetite da China por recursos naturais continua grande,
mas as investidas do país no exterior já não se limitam a projetos ligados à
extração e obtenção de matéria-prima que, num passado recente, chegaram a
elevar o Brasil ao topo da lista dos países que mais receberam investimentos
diretos dos chineses.
No que alguns economistas definem como uma "nova
onda", os investimentos chineses no exterior estão mais diversificados,
com maior participação de empresas privadas, revelando uma aposta em setores
como imobiliário e de tecnologia e foco em países ricos.
Nesse cenário, os investimentos diretos chineses no Brasil,
após atingirem seu ponto máximo em 2010, vem sofrendo queda desde então,
segundo o levantamento China Global Investment Tracker, do centro de pesquisas
Heritage Foundation, em Washington.
De acordo com o levantamento, que só leva em conta
investimentos de mais de US$ 100 milhões e não inclui títulos públicos, em 2010
o Brasil foi o principal destino de investimentos diretos chineses, com US$
13,7 bilhões.
Em 2011, o montante caiu para US$ 8,63 bilhões. No ano
passado foram US$ 3,37 bilhões e neste ano, até agora, menos de US$ 1 bilhão.
"A concentração de investimentos no Brasil fez parte de
um ciclo", disse à BBC Brasil o economista Derek Scissors, especialista em
China do American Enterprise Institute e um dos responsáveis pelo levantamento
da Heritage Foundation.
Destinos
Scissors lembra que, em 2006, a China concentrava seus
investimentos na Austrália. Dois anos depois, o foco era a África Subsaariana,
destino substituído pelo Brasil a partir de 2010.
Nos últimos dois anos, observa Scissors, a China tem
investido pesadamente nos EUA e no Canadá.
"É um movimento normal, é assim que a China costuma
agir. Concentra investimentos em uma região e, passado algum tempo, parte para
outra", afirma.
Segundo a Heritage, se somado o total acumulado desde 2005 o
Brasil é o quarto principal destino de investimentos da China, com US$ 28,2
bilhões.
O ranking é liderado pela Austrália (US$ 58,2 bilhões),
seguida por EUA (US$ 57,6 bilhões) e Canadá (US$ 37,6 bilhões).
Mudança
O economista Claudio Frischtak, consultor do Conselho
Empresarial Brasil-China (CEBC), observa que até 2010 os investimentos chineses
no Brasil foram caracterizados pela concentração em matérias-primas,
principalmente petróleo e gás.
Empresas chinesas investiram em projetos de produção
agrícola, exploração de petróleo, construção de dutos, iniciativas com o
objetivo de expandir e dinamizar o complexo exportador brasileiro.
"A grande mudança após 2010 é a tentativa das empresas
chinesas, ainda em curso, de diversificação e basicamente de estabelecer uma
plataforma de manufaturas no Brasil", disse à BBC Brasil Frischtak, que é
coautor de um relatório do CEBC que analisa os investimentos chineses no Brasil
entre 2007 e 2012.
"Mas minha percepção é de que já houve mais entusiasmo
das empresas chinesas em relação ao Brasil", afirma.
Frischtak cita reclamações de empresas chinesas sobre
problemas como a estrutura tributária complexa do Brasil, carga tributária
pesada e restrições à entrada de mão de obra estrangeira.
"Hoje, do ponto de vista de atrair investimento chinês
para o Brasil, a bola está muito mais com a gente do que com os chineses",
diz Frischtak.
"Está muito mais no sentido de melhorar nosso ambiente
de negócios, reduzir custos, melhorar nossa infraestrutura, fazer o país mais
atraente como um todo", afirma, lembrando que os problemas também afetam
os próprios investidores brasileiros.
Tendências
Segundo o analista Thilo Hanemann, especialista em China do
Rhodium Group, a diversificação dos investimentos chineses e o crescente
interesse nos EUA estão relacionados às mudanças em curso na economia do país
asiático.
"Muitas empresas sofrem pressão para aumentar sua
competitividade, melhorar sua tecnologia, expandir para mercados globais e
diversificar seus negócios. Tudo isso levou ao atual interesse nas economias
desenvolvidas", disse Hanemann à BBC Brasil.
"Apesar disso, ainda há um forte interesse em
commodities. Petróleo, gás e agricultura vão continuar sendo parte importante
dos investimentos chineses no exterior", observa.
Hanemann diz que as empresas chinesas estão investindo em recursos
naturais também nos países desenvolvidos, principalmente EUA, Canadá e
Austrália, onde encontram "acesso a esses recursos aliado a um ambiente
político estável".
Outra tendência é o interesse no setor manufatureiro e de
serviços e em setores que proporcionem segurança e possibilidade de lucros
altos. Hanemann cita o crescente interesse dos chineses no setor imobiliário de
cidades como Nova York.
"Vamos registrar um novo recorde de investimentos
diretos chineses nos EUA neste ano. Até o momento, estamos em US$ 12 bilhões. E
é uma tendência que deve continuar, está apenas começando", afirma
Hanemann.
Para Scissors, porém, a concentração nos EUA deve durar
pouco, assim como os ciclos anteriores. Ele aposta na Europa como próximo
destaque nos investimentos chineses. E não descarta um retorno com força ao
Brasil, no futuro.
"Não acho que vamos ver um aumento de investimentos
chineses no Brasil em 2014 ou 2015. Mas o ciclo vai continuar", diz.
"Acredito que antes do fim da década pode haver um novo
salto nos investimentos chineses no Brasil."
Disponível em:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/11/131030_china_investimentos_brasil_mm.shtml
Acessado em: 11 de novembro de 2013
Link complementar:
http://oglobo.globo.com/economia/brasil-ja-o-quarto-destino-de-investimentos-chineses-10736125