Colômbia Mobiliza Agentes Secretos para ombater 'Mão Boba' em Ônibus
0
À primeira vista, Laura, de 22 anos, se assemelha a qualquer
outra estudante a caminho das aulas de manhã: em um terminal de ônibus em
Bogotá, ela se veste em roupa casual e leva uma bolsa cruzada no peito.
Parece,
mas não é. Laura é uma policial colombiana em uma missão: ela integra uma
equipe especial de agentes à paisana cuja função é combater o abuso sexual na
rede de ônibus de Bogotá.
Sete
outros oficiais sem uniforme realizam a patrulha junto com ela, a maioria,
mulheres.
Não é
tarefa fácil: em média, o sistema Transmilenio de ônibus transporta cerca de 2
milhões de passageiros por dia.
Pesquisa
realizada há alguns anos revelou que seis entre dez mulheres em Bogotá já
haviam sofrido abuso sexual ao menos uma vez nos ônibus lotados da cidade.
Apesar de
apenas uma minoria registrar queixas, o número de denúncias tem crescido: de 81
em 2013 para mais de 150 nos primeiros oito meses deste ano.
Laura
acredita que a nova iniciativa está funcionando. "Não temos recebido
tantas queixas de abusos como quando nós começamos", aponta.
'Maré
está virando'
A tenente
Lina Maria Ríos comanda as operações do Grupo de Elite Transmilenio. Ela
confirma uma queda no número de casos registrados desde o início da iniciativa.
"Ainda
é cedo para dizer, mas parece que a maré está virando", diz ela.
A equipe realizou 17 prisões, a
maioria nas duas primeiras semanas de patrulha.
"Pode ser que as pessoas estejam
pensando duas vezes, porque não querem arriscar assediar uma garota que pode
ser uma policial à paisana", disse Lina.
Mais que punir, o projeto visa a
dissuadir potenciais criminosos. As integrantes garantem que não estão agindo
como iscas - o que foi sugerido pela imprensa local após uma das oficiais ter
participado de um encontro com a imprensa vestindo jeans apertados.
"Isso significaria que nós é que
estaríamos cometendo o crime", disse Nestor, um dos quatro homens na
equipe.
O maior número de mulheres não se
justifica pelo gênero dos potenciais criminosos, e sim leva em conta a
perspectiva das vítimas, dizem os agentes.
"Outras mulheres não se sentiriam
à vontade se ficássemos olhando para elas durante uma situação potencialmente
desconfortável", disse Yuri, especialista em coleta de inteligência, e
treinado para identificar comportamento suspeitos.
"É também para informar as
mulheres que elas não estão sozinhas, que as mulheres na polícia as estão
protegendo", disse Lina.
As sete mulheres, assim como o
restante dos 11 integrantes do projeto, foram selecionadas pela experiência com
trabalho à paisana, com grupos vulneráveis e coleta de informações.
'Aparência normal'
Antes
de se tornar coordenadora da equipe, Lina já estava acostumada com o trabalho à
paisana, patrulhando os ônibus do sistema Transmilenio para evitar a ação de
assaltantes.
O trabalho agora é diferente, diz ela.
Lina explica que os criminosos que ela busca raramente agem com violência
quando são flagrados - e que eles vêm de toda parte da sociedade, "jovens
e velhos, ricos e pobres, com aparência estranha e normal".
Com um perfil tão variado, os membros
da equipe foram treinados a observar comportamentos suspeitos, e não aparências
estranhas.
Eles prestam atenção em homens que
encaram os seios ou bumbuns de mulheres e aqueles que mantêm as mãos abaixadas
quando faria mais sentido segurar as barras dos ônibus.
Os agentes estão prontos para agir ao
menor sinal de contato impróprio não acidental.
Ação rápida
Flagrar criminosos é apenas parte do
trabalho dos agentes. Eles também são acionados para agir rapidamente após
queixas de abusos sexual na rede Transmilenio. A ideia é agir rapidamente para
demonstrar que as autoridades levam a questão a sério.
"Muitas
vítimas não denunciam os ataques porque elas acreditam que é perda de tempo.
Queremos mudar isso", disse Leydi, que também integra a equipe.
Outra
agente lembra o momento em que ela mesma foi assediada ao descer de um ônibus.
"Consegui bater no peito do cara antes que as portas se fechassem, mas é
uma situação horrível, você se sente impotente", relatou.
Pesquisas
sugerem que um quarto dos homens de Bogotá não veem problema em tocar uma
passageira - sinal de que a equipe ainda tem muito trabalho pela frente.
O grupo
reconhece que, sob as leis atuais, a maioria dos criminosos não deve ser presa.
Mas eles esperam que o trabalho possa pelo menos chamar atenção para o
problema.
"É
por isso que estamos fazendo isso. Para que essas coisas não aconteçam
novamente", disse uma agente.
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140826_colombia_grupo_assedio_hb.shtml