Por que nunca ganhamos o Prêmio Nobel?
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Brics - Infomoney - 15/10/2013
Somos o único país entre os BRICS que jamais levou a
premiação. Até mesmo os nossos vizinhos no continente já tiveram o seu momento
de glória. Nós não. Mas, por quê? Se somos a sexta economia do mundo, se
produzimos itens de razoável complexidade, se já alcançamos um nível cultural
relativamente sofisticado e se somos 200 milhões de brasileiros (quase 3% da
população mundial) por que nunca levantamos essa taça?
Todo ano, a cada mês de outubro, aguardo o resultado dos
laureados com o Prêmio Nobel nas áreas de Física, Química e Economia
(concedidos pela Academia de Ciências da Suécia), de Medicina (concedido pelo
Instituto Karolinska, a maior universidade médica da Suécia), de Literatura
(concedido pela Academia de Letras da Suécia) e da Paz (concedido por um comitê
do Parlamento da Noruega). Sempre torço para surgir um brasileiro entre os
laureados, lavando a alma nacional, já que nunca tivemos essa honraria desde
que o Prêmio foi distribuído pela primeira vez em 1901. Desde então, foram 840
pessoas ou organizações laureadas e nenhum brasileiro.
Essa absoluta ausência nacional entre os agraciados com o
Nobel sempre me intrigou. Somos o único país entre os BRICS que jamais levou a
premiação. Até mesmo os nossos vizinhos no continente já tiveram o seu momento
de glória. Nós não. Mas, por quê? Se somos a sexta economia do mundo, se
produzimos itens de razoável complexidade, se já alcançamos um nível cultural
relativamente sofisticado e se somos 200 milhões de brasileiros (quase 3% da
população mundial) por que nunca levantamos essa taça? Pelas leis da
estatística, brasileiros já deveriam ter sido premiados com o Nobel, pelo menos
25 vezes. Esse é o tamanho do nosso atraso nessa corrida.
É verdade que existem injustiças mundialmente reconhecidas.
Como a do paranaense César Lattes (o verdadeiro descobridor da partícula
subatômica méson Pi, e de outros sucessos no campo da física) ou como a do
mineiro Carlos Chagas (que além de descrever, detalhadamente, a etiologia da
doença que levou o seu nome, é reconhecido, até hoje, como o mais importante
pesquisador de enfermidades tropicais).
Podem ter ocorrido essas e outras injustiças. Mas, o fato é
que estamos em débito nessa competição. As premiações cientificas, incluindo a
de Medicina, retratam com fidelidade a organização e a excelência do ensino
acadêmico nas diversas regiões ou países. Daí a grande concentração de
premiados na Europa e nos EUA. Aliás, 257 laureados (30,6% do total) são
pessoas nascidas nos EUA. É bem verdade que os norte-americanos investem muito
mais que nós em educação superior. Mas, isso não explica, por si só, a nossa
defasagem comparativa. Mais do que a diferença nos investimentos, prevalece a
falta de qualidade do nosso ensino, penosamente custeado pelo esforço e pelos
impostos dos brasileiros.
Fora das áreas científicas, ou seja, no campo da Literatura
e na premiação pela Paz, o nosso desempenho é igualmente nulo. Há quem
argumente que o uso da língua portuguesa nos isola da comunidade internacional.
Premiações recentes no campo da Literatura, concedidas a escritores de línguas
relativamente exóticas (pelo menos para o padrão ocidental) desqualificam esse
tipo de argumentação. As causas são outras. Assim como as premiações
científicas procuram destacar os avanços que efetivamente representem fatores
de melhoria na vida das populações, os laureados na Literatura e na Paz também
devem simbolizar ações ou processos que levem à harmonia, a compreensão e a boa
convivência dos povos. E, nessas áreas, temos insistido com as candidaturas
erradas, submetendo indicações fortemente ideologizadas à Fundação Nobel. Quase
sempre são personalidades que desfrutam de grande admiração e simpatia dentro
do nosso país, mas que, aparentemente, não têm o perfil ajustado às exigências
dos que processam as indicações e das instituições que elegem os premiados.
Os norte-americanos, que se orgulham da contribuição dada
por seus premiados com o Nobel, para a constituição de uma sociedade melhor,
frequentemente mencionam a opinião de que os latino-americanos, e em especial
os brasileiros, quase não contribuem para a evolução da humanidade. Se o Prêmio
Nobel vier a ser utilizado como escala de medida para essa assertiva, fica
difícil encontrar alguma coisa feita ou produzida por brasileiros que tenha
servido para melhorar, efetivamente, a qualidade de vida na sociedade global.
De todo modo, precisamos modificar esse cenário e “desencantar” na obtenção desse
Prêmio e no importante reconhecimento internacional para com a nossa
contribuição. Fora os benefícios sócio-econômicos que a inserção de laureados
com o Nobel poderá trazer para a nossa população, moldando processos de maior
produtividade, de mais inovação e de melhor sustentabilidade.
Disponível em:
http://www.infomoney.com.br/blogs/blog-do-rubens-menin/post/3005913/por-que-nunca-ganhamos-premio-nobel.
Acessado em 16/10/2013.
Links complementares:
<http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/por-dentro-das-celulas/por-que-nunca-ganhamos-o-nobel>