Fome ameaça subúrbios rebeldes de Damasco
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A ONU e o governo dos Estados Unidos fizeram um apelo às
autoridades sírias para que permitam a chegada de comboios de ajuda humanitária
aos civis de alguns subúrbios de Damasco controlados por rebeldes que enfrentam
o regime do presidente Bashar Al-Assad.
As autoridades americanas dizem que o cerco do Exército sírio à região, que já dura meses, deixou muitos moradores presos e necessitando urgentemente de alimentos, água e remédios.
Elas também citam "relatos sem precedentes" de crianças morrendo de má-nutrição a apenas poucos quilômetros do palácio presidencial.
O Exército sírio advertiu que os bairros rebeldes devem se entregar ou morrer de fome.
Autorização para comer cães e gatos
Ao menos três subúrbios de Damasco - Yarmouk, leste de Ghouta e Moudamiyah -
estão cercados pelas tropas do governo há vários meses.
A situação se tornou tão desesperadora que no início da semana alguns
clérigos muçulmanos emitiram um decreto religioso permitindo às pessoas comerem
gatos, cachorros e burros para poderem sobreviver.
Esses animais são normalmente considerados impróprios para o consumo pelas
normas islâmicas.
Segundo o correspondente da BBC em Damasco Paul Wood, no mercado de Yarmouk
os únicos alimentos disponíveis nesta semana eram rabanetes e algumas
verduras.
A chefe do setor humanitário da ONU, Valerie Amos, cobrou neste sábado "uma
pausa imediata nas hostilidades" em Moadamiyah, alegando que 3 mil pessoas já
foram retiradas do local, mas que outras 3 mil seguem presas no subúrbio, em
meio ao fogo cruzado.
Armas com cheiro de pão
"Pedimos que o regime sírio aprove imediatamente a entrada de comboios
humanitários", afirmou na sexta-feira em um comunicado a porta-voz do
Departamento de Estado dos Estados Unidos, Jen Psaki.
Ela advertiu ainda que "aqueles que são responsáveis por atrocidades nos
subúrbios de Damasco e em toda a Síria serão identificados e
responsabilizados".
Segundo ela, em Moudamiyah "as pessoas estão sem suas necessidades básicas
por quase um ano, e as ações deliberadas do regime para evitar a chegada da
ajuda humanitária vital a milhares de civis são injustificáveis".
Imagens obtidas pela BBC em Yarmouk mostram famílias lutando para encontrar
algo para comer.
Um menino de 11 anos, que disse ter visto vários amigos morrerem, disse:
"Estamos cansados disso. Se eles (as tropas do governo) querem nos atacar com
armas químicas, que façam isso! Mas será que podem fazê-las com cheiro de pão,
para podermos morrer felizes?".
Ativistas sírios dizem que estão começando a registrar as primeiras mortes
por complicações provocadas por má-nutrição no conflito sírio.
Mais de 100 mil pessoas já morreram nos mais de dois anos de guerra civil na
Síria.
Disponível em:http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/10/131019_siria_damasco_fome_rw.shtml