Campanha para eleições na Alemanha ignora tema 'Europa'
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Alemanha - BBC Brasil - 20/09/2013
Há alguns meses a Europa está parada, à espera do resultado das eleições na Alemanha. O país é indispensável dentro da política europeia e nenhuma grande decisão é tomada sem a participação alemã.
Mas a campanha eleitoral não reflete isso. Os políticos alemães parecem relutantes em debater o papel da Alemanha na Europa e o futuro do continente.
Outros debates – como a obrigatoriedade de um dia sem carnes nos menus das cantinas públicas – estão gerando mais interesse do que os pacotes de ajuda da União Europeia.
A oposição ataca o governo de Angela Merkel dizendo que a Alemanha virou um país de baixos salários e mão de obra pouco qualificada. O assunto Europa não empolga nem os opositores.
Já Angela Merkel ignora o tema de propósito. Ela é a política mais popular na Alemanha, com índice de aprovação de 60%, depois de oito anos no poder.
Ela é – segundo sua campanha oficial – uma opção segura para liderar a Alemanha. Seu estilo deliberadamente cauteloso e prudente agrada o humor alemão. A economia do país é seu principal trunfo, com o índice de desemprego mais baixo das últimas duas décadas.
Europa
Discussões importantes na Europa, como a formação de uma união bancária continental, estão praticamente ausentes do debate público.
O reconhecimento de que a Grécia precisará de um novo resgate foi brevemente discutido. Também não houve muito debate sobre os efeitos da austeridade na Europa.
Há quem diga que a Alemanha não quer liderar a Europa, como a analista Ulrike Guerot, do instituto European Council on Foreign Relations.
"O governo de Berlim simplesmente não tem a ambição política de fornecer uma liderança clara em tempos de turbulência", diz ela.
A analista afirma que o conceito de liderança alemã na Europa traz memórias ruins do passado. Segundo ela, toda vez que a Alemanha insiste em promover austeridade e reformas em outros países, os líderes alemães são retratados por manifestantes em cidades como Atenas e Madri com roupas nazistas.
A crise econômica europeia não trouxe tantos prejuízos à Alemanha e até ajudou a reequilibrar alguns laços comerciais. O volume de comércio com parceiros europeus desabou, mas cresceu com o resto do mundo.
Enquanto as exportações para a Itália caíram 10% desde 2008, as exportações para os Estados Unidos e a China aumentaram.
Segundo uma pesquisa recente da entidade Open Europe Berlin, 52% dos eleitores alemães não querem maior envolvimento da Alemanha com a Europa.
Mas Merkel segue comprometida com o euro. Para ela, a defesa do continente e da moeda única é fundamental para os interesses alemães.
No entanto, seu tom mudou. Hoje em dia, ela já não fala em "mais Europa".
Há sinais de que ela é contra a transferência de mais poderes nacionais para a Comissão Europeia.
Tudo indica que, após as eleições, qualquer que seja o resultado a Alemanha não mudará radicalmente sua postura. A política segue sendo de apoiar a integração, insistir em reformas e manter a solidariedade com os afetados pela crise.
Eleições regionais
O resultado das eleições estaduais da Baviera, realizadas no domingo passado, trouxe boas e más notícias para a campanha de Angela Merkel.
Os políticos aliados ao CSU — partido conservador que representa Merkel na Baviera — tiveram boa votação e conquistaram a maioria absoluta.
"Um em cada dois bávaros votou em nosso partido", disse o líder do CSU, Horst Seehofer. Isso dá bastante ímpeto para a campanha nacional de Merkel.
Em um comício, Seehofer disse que a Baviera é "a porta para o paraíso". Há 56 anos o CSU domina o Estado.
Mas nem tudo deu certo para Merkel no domingo passado. O principal aliado da chanceler, o Partido Liberal Democrata (FDP), sofreu um "duro golpe", segundo seu próprio líder. Com apenas 3% dos votos, o partido ficou de fora do Parlamento estadual bávaro, por não obter o percentual mínimo necessário, segundo a lei eleitoral alemã.
Se esse resultado se replicar em nível nacional na próxima semana, Angela Merkel perderia um de seus principais aliados na coalizão que governa a Alemanha. E isso pode alterar todo o equilíbrio político.
Alguns eleitores de Merkel podem acabar votando no FDP apenas para fazer com que eles superem os 5% dos votos, necessários para se manter no Parlamento. Mas essa estratégia é arriscada e pode prejudicar o CDU, sigla de Merkel.
"Quem quer Angela Merkel deve votar em Angela Merkel", disse o vice-líder do CDU, Armin Laschet, desestimulando o "voto tático" dos conservadores.
Mas o líder do FDP alerta que caso seu partido não consiga entrar no Parlamento, a porta estará aberta para uma aliança entre os partidos Social Democrata (SPD) e Verde – ambos de esquerda, que fazem oposição a Merkel.
Sem o FDP, provavelmente Merkel poderia ser forçada a propor uma "grande coalizão", que incluiria o partido de oposição SPD. Os Social Democratas, entretanto, descartam esse tipo de coalizão.
Disponível em: http://goo.gl/jfRjSt Acessado em 21/09/2013
Outras fontes: http://goo.gl/3Es1Cm e http://goo.gl/8WxfXk