Brasil pode ficar isolado com acordo entre EUA e UE
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Brasil - BBC Brasil - 18 de novembro de 2013
A conclusão de um acordo comercial entre o Mercosul e a
União Europeia (UE) é mais urgente do que nunca para o Brasil, que corre o
risco de ficar isolado no cenário mundial se o bloco europeu fechar o tratado
de livre comércio que está negociando com os Estados Unidos, afirmam analistas
ouvidos pela BBC Brasil.
"O Brasil será a única grande economia do mundo sem um
acordo de livre comércio com alguma outra grande economia", observou
Michael Emerson, economista do Centro para Estudos de Política Europeia (CEPS),
um grupo de pressão com sede em Bruxelas.
"Isso deveria servir como um alerta para o país que, se
não se mexer para fechar um acordo semelhante, ficará isolado no cenário
comercial mundial."
As negociações entre o Mercosul e a UE se arrastam desde 1995
e as duas partes se comprometeram a dar um passo decisivo em dezembro, com um
novo intercâmbio de propostas.
No entanto, tanto Emerson como Ulrich Schoof, analista da
Fundação Bertelsmann, um grupo de pressão independente baseado na Alemanha,
acreditam que a iniciativa será prejudicada pelas negociações entre as
autoridades europeias e americanas.
"A UE precisa concluir rapidamente acordos comerciais
com sócios suficientemente grandes e bem conectados com o resto do mundo para
incentivar seu crescimento e sustentar suas políticas macroeconômica e
fiscal", analisou Schoof em entrevista à BBC Brasil.
"Nesse contexto, sua energia é absorvida pelas
negociações com Japão, Taiwan e Estados Unidos, que têm mais probabilidades de
dar certo, e se reduz o entusiasmo com respeito ao Mercosul", afirmou,
recordando as reticências de Argentina em abrir seus mercados para os europeus.
Maior área de livre comércio do mundo
Um acordo entre a UE e os Estados Unidos - que juntas
respondem por 49 por cento do PIB global e 31% dos intercâmbios comerciais -
criaria a maior área de livre comércio do mundo e teria um impacto inevitável
sobre todos os demais países.
Mais que eliminar as tarifas sobre exportações, as duas
maiores potências econômicas internacionais buscam a harmonização ou o
reconhecimento mútuo de normas e padrões técnicos e sanitários para todos os
produtos que comercializam.
Essa medida por si — que permitirá uma redução de custos e
um aumento do fluxo comercial — responderia por 81% do benefício gerado pelo
tratado, estimado em 275 bilhões de euros anuais. Os outros 19% viriam da
eliminação das tarifas.
Tanto a UE como os Estados Unidos argumentam que a
iniciativa também fortaleceria o comércio internacional como um todo, já que
ambos são parceiros comerciais de praticamente todos os países do mundo.
Com a harmonização, os países terceiros passariam a ter que
adaptar seus produtos a um único conjunto de normas e padrões ao exportar tanto
para o bloco europeu como para os americanos, o que reduziria burocracia e custos.
Impacto negativo
No entanto, os analistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam
que para o Brasil esse benefício seria mínimo comparado ao prejuízo causado
pelo aumento da concorrência em dois de seus maiores mercados.
Isso porque o maior responsável pelo encarecimento das
exportações nacionais para a UE e os Estados Unidos são as tarifas comerciais,
em geral mais elevadas que as impostas mutuamente pelos dois gigantes, e não a
adaptação a normas e padrões de cada mercado.
Um estudo da Fundação Bertelsmann calcula que as exportações
brasileiras diminuiriam 29,72% para os Estados Unidos e 9,4% para a UE,
resultando em uma queda de 2,1% no PIB per capta real brasileiro em um prazo de
entre 15 e 20 anos.
Caso o tratado comercial entre a UE e os Estados Unidos se
limite à eliminação de barreiras tarifárias entre os dois países, sem a
harmonização de normas e padrões, a redução das exportações brasileiras seria
de apenas 2,24% para os Estados Unidos e de 3,71% para a UE.
No entanto, sob esse cenário, o aumento do fluxo comercial
entre os Estados Unidos e a UE poderia levar a uma caída de preços dos produtos
nacionais no mercado brasileiro, o que resultaria em um aumento de 0,5% no PIB
per capta real para o Brasil, explicou à BBC Brasil Sybille Lehwald, economista
da Fundação Bertelsmann.
Disponível em:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/11/131118_brasil_ue_mercosul_mb_dg.shtml
Acessado em: 20 de novembro de 2013